Saúde

Consumo de alimentos ultraprocessados pode aumentar incidência de sintomas depressivos
Estudo conduzido por André Werneck investigou a conexão entre a ingestão de alimentos ultraprocessados e o aumento na incidência de adoecimento mental
Por Julio Silva - 04/02/2025


Algumas hipóteses sugerem que os componentes aditivos desses alimentos elevam os sintomas de adoecimento mental – Fotomontagem Jornal da USP com imagens de: Freepik


A pandemia de covid-19, que teve início em 2020, trouxe à tona uma discussão crescente sobre saúde mental, com um aumento de 25% nos casos de ansiedade e depressão em todo o mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). O Brasil, em particular, lidera a América Latina em casos de depressão. No entanto, um aspecto menos discutido dessa crise de saúde mental é a relação entre alimentação e saúde psicológica. 

Recentemente, um estudo conduzido por André Werneck, doutorando e pesquisador no Nupens (Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde) da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, investigou a conexão entre a ingestão de alimentos ultraprocessados e o aumento na incidência de adoecimento mental. Segundo o pesquisador, o estudo, realizado ao longo de 18 meses, utilizou dados do Internet Brasil e avaliou tanto os hábitos alimentares dos participantes quanto o surgimento de sintomas depressivos.

Resultados

Conforme o especialista, a pesquisa revelou que aqueles que consumiram maior quantidade de alimentos ultraprocessados apresentaram um risco 42% maior de desenvolver sintomas depressivos moderados a severos, em comparação com os participantes que consumiram menos desses alimentos. Além disso, o estudo mostrou que a presença de 10% a mais de alimentos ultraprocessados na dieta estava associada a um aumento de 10% no risco de desenvolvimento de sintomas depressivos. Essa associação, segundo ele, ocorre independentemente de fatores como gênero, idade e cor.

De acordo com Werneck, esse é um campo de pesquisa relativamente novo, portanto não há uma confirmação precisa de quais mecanismos envolvidos elevam esses sintomas. No entanto, uma das principais hipóteses é que a composição nutricional dos alimentos ultraprocessados, que tendem a ser ricos em açúcares adicionados, gorduras saturadas, sódio e pobres em fibras, seja responsável por essa associação. Mesmo após a correção pela composição nutricional, o estudo revelou que a relação entre o consumo desses alimentos e o aumento dos sintomas depressivos se manteve.

Além disso, o pesquisador sugere que o consumo de alimentos ultraprocessados pode afetar a microbiota intestinal, que, por sua vez, tem um impacto direto na saúde mental. A presença de aditivos cosméticos, como corantes, saborizantes e emulsificantes, presentes nesses alimentos, poderia alterar a microbiota intestinal de forma a contribuir para o aumento da inflamação no corpo e para mudanças em estruturas e funções do cérebro, ambos os fatores ligados ao desenvolvimento de sintomas depressivos.

Alimentos in natura

Em contrapartida, Werneck afirma que padrões alimentares mais saudáveis, baseados em alimentos in natura e minimamente processados como frutas, vegetais, sementes, castanhas, grãos e cereais integrais estão associados à menor incidência de sintomas depressivos. Esse tipo de alimentação, alinhado às recomendações do Guia Alimentar para a População Brasileira, destaca a importância de evitar o consumo excessivo de alimentos ultraprocessados e priorizar alimentos frescos e naturais.

Embora o estudo tenha focado nos alimentos ultraprocessados, o especialista ressalta que a relação entre alimentação e saúde mental é complexa e que mais pesquisas são necessárias para entender todos os mecanismos envolvidos. No entanto, ele reforça a importância de uma abordagem integrada, na qual a alimentação saudável, aliada a outras práticas de cuidado com a saúde mental, pode ajudar a mitigar os efeitos adversos dos tempos modernos.

“Com o País enfrentando uma epidemia de transtornos como a depressão, especialmente após os impactos da pandemia, a mudança de hábitos alimentares pode ser uma solução acessível e eficaz na prevenção e no tratamento de sintomas depressivos e de ansiedade. Incentivar a população a fazer escolhas alimentares mais conscientes pode ser um passo significativo para a promoção da saúde mental no Brasil e no mundo”, aponta. 

 

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